Ho! Ho! ho...

Nesta época natalícia, toda a gente recebe o típico boxer/cueca, o pijama e claro.. a meinha. Também fui contemplado.

Mas ele há coisas que não lembram ao diabo..


Sacanagem .. :p

O papel! Qual papel!?

Área prioritária: Mudar de Casa
...
Objectivo Específico1: Ter os dados actualizados em todas as instituições/empresas onde tenha registos pessoais
...
Acçãon: Actualizar morada nas contas da Caixa Geral de Depósitos (CGD)
...

Capítulo I
Aceder ao serviço de home banking e actualizar a morada.

Fatal error - o serviço não dispõe de uma opção para actualização dos dados do cliente.

/me pensa: se tudo funciona sobre bases de dados on-line, porque raio é que uma operação tão simples quanto alterar um dado pessoal - morada - não pode ser logo feita pelo cliente, poupando tempo e recursos humanos à empresa?? Se o sistema é seguro para transacções financeiras, não será também seguro para.. mudar uma morada!?

Grau de irritação: nível VERDE

Capítulo II
Perder meia hora e dirigir-me à agência mais próxima de casa/menos concorrida.

Fatal error - Não basta informar qual a nova morada para o bancário actualizar na base de dados. Tem que preencher um formulário A4 de 2 folhas e fazer-se acompanhar de um comprovativo de residência. Mais.. tem que ir à agência de domicílo das suas contas para efectuar a alteração.

/me pensa: Fdx! Um form de 2 folhas?? Um comprovativo de residência?? (Até para mudar o BI e a carta de condução que são documentos realmente mais "credíveis" que uma conta no banco, ninguém me pediu comprovativo de residência algum!) Se têm agências e se estão todas ligadas por uma rede de dados, porque é que não hei-de poder fazer uma alteração tão simples em qualquer uma delas?

Grau de irritação: nível AMARELO

Capítulo III
Preencher form. Perder mais uma hora e dirigir-me à agência de domicílio das contas.

Fatal error - Comprovativo de morada.. tem de ser uma factura (electricidade, gás, TvCabo, telefone..). A carta de condução, emitida pela DGV, um documento oficial com a morada completa, não serve. Tem que se dirigir à Junta de Freguesia e solicitar um comprovativo de residência para apresentar. Já agora traga também o cartão de estudante para comprovarmos a sua actividade profissional.

/me pensa: Porque é que um documento oficial como a carta de condução não serve? Será que os srs da DGV são relaxados e aceitam uma morada qualquer fantasma para depois enviarem as multas? Não creio.. Será que o comprovativo da Junta de Freguesia que é escrito à mão e como tal de "robustez anti fraude" mínima, com base na morada que EU declarei, vale mais do que a carta de condução? Ou será que os srs da CGD pensam que os srs da Junta de Freguesia vão enviar um colaborador cá a casa para saber se é mesmo aqui que eu moro?

Afinal qual é a importância da morada, ou qual a tão grande necessidade de pseudo-aferir a sua veracidade? É para não se enganarem quando tiverem que mandar cartas a dizer que lhes devo dinheiro?? Não me dão nenhum dinheiro para além dos milhares de.. cêntimos que lá depositei. Pensando bem, em 26 anos de cliente a única correspondência que recebi do banco foram os cartões de débito. Mas isso é acima de tudo do meu interesse.. Defraudar-me-ia? A mim próprio??

Grau de irritação: LARANJA a roçar o VERMELHO..

Capítulo IV
%&/#$#!"%&((/&%%$!!!!!! Dirigir-me à Junta de Freguesia e solicitar comprovativo de residência.

Fatal error - Porta fechada. Aviso: Informam-se todos os interessados que por motivo de adesão dos funcionários à greve da administração local, os serviços da junta de freguesia se encontram encerrados nos dias 13 e 14 de Dezembro.

/me pensa: Lei de Murphy rules.. "$%&amp;amp;=!*<+&"%>( *10E999999!!!!

Grau de irritação: VERMELHÍSSIMO!!
...

Ouço constantemente que o nosso país é pequeno. Que não avança porque o mercado é pequeno. Que os investidores e os intelectuais fogem do país.. Amigos, pequeno é o tamanho da inteligência e do espírito de muitos concidadãos, com especial destaque daqueles que têm a missão de pensar as teias burocráticas e os nossos serviços.

Sou "paper-work friendly" no sentido em que compreendo e lido bem com a necessidade de alguns procedimentos administrativos indispensáveis à transparência e bom funcionamento geral. Mas os processos burocráticos não podem exceder o mínimo indispensável para garantir a segurança e funcionalidade. O bom senso é indispensável na gestão de uma sociedade com cada vez mais informação/dados a circular.

Bom senso, procura-se..

..Cenas dos próximos capítulos
*Escrever uma carta ao departamento de qualidade do banco
*Guardar o dinheiro debaixo do colchão

btw - perdoe-me quem leu o último post. Apenas mais tarde percebi que era um excerto de Margarida Rebelo Pinto. Tratou-se de uma acção irreflectida e inconsequente. Prometo que não repetirei a blasfémia de reproduzir aqui qualquer matéria fecal regurgitada pela dita autora. Shame on me! 20 chibatadas..


Confesso, sou um daqueles benfiquistas que pouca atenção dá aos jogos quando o glorioso passa por ciclos de desempenho mais fracos (vá batam no homem..). Eventualmente identifico o futebol cada vez mais como um negócio e menos como uma actividade movida pela paixão. Daí ser mais natural desinteressar-me quando as coisas não correm tão bem.

Mas deste fim de semana há dois aspectos a reter: o glorioso venceu contra a maioria das expectativas e mesmo das probabilidades, e o Mantorras voltou a marcar (e a ser decisivo!). Mais, a paixão e emoção que o mangolé transpira é tão invulgar quanto contagiante!!

Deixem jogar o Mantorras :p

Juventude

É oficial.. hoje é o último dia da minha vida em que posso utilizar o cartão jovem. Não porque tenha atingido a idade máxima (isso já foi há uns meses ehehe) nem porque deixei de ser Jovem. Terminou mesmo a validade da última emissão possível. E que saudades ficarão deste fiel companheiro de descontos :)

Numa perspectiva mais "pragmático-depressiva", analisando também os cabelos brancos que começam a despontar, poderia mesmo questionar-me se isto não será o princípio do fim.. o dia do juízo final na minha era de juventude. Mas como o estatuto de "Jovem" é díspar em Portugal (basta pensar que se é Jovem agricultor até pelo menos aos 40 anos) torna-se para mim claro que ainda me faltam uns anitos até atingir o patamar seguinte.

Firme que está a minha condição de Jovem (yupi!!) e fruto da minha sensibilidade para esta questão no dia de hoje, tenho que manifestar aqui o meu protesto por aquilo que considero um abuso.

Passo a explicar..

No início de qualquer pré-campanha eleitoral, logo após a apresentação de um determinado candidato é apresentado o seu mandatário para a Juventude. Pode não existir mais nenhum mandatário, ou pode não ser divulgado, mas o mandatário para a Juventude assume sempre um lugar de destaque, o estatuto de primeiro, de principal.



Ora nesta óptica poderá ser legítimo expectar que este "sinal" se venha a converter numa prioridade após o sufrágio. E é aqui mesmo que surge a minha indignação.. pois em NENHUM mandato que conheça, a Juventude e as políticas de Juventude foram assumidas como prioritárias.
Penso mesmo que seria mais honesto nomear mandatários para o urbanismo e construção civil, mandatário para os lobbies, mandatário para a comunicação social..

Ou será que o interesse (verdadeiro e prioritário) pela Juventude se esgota no agitar de bandeirinhas e passeios em caravana durante a campanha eleitoral, no "bonito" que é ver um político de 80 anos pseudo-rejuvenescer por diariamente procurar aparecer rodeado de Jovens (assim de repente nem estou a ver quem possa ser..) e filmes afins?

Ainda nem começou a campanha eleitoral e este abuso já me está a irritar veementemente..

Amiguinhos, abram a pestana! Participem, envolvam-se, discutam.. mas o jogo a valer é quando os mandatos começam. Aí sim é crucial discutir, opinar, participar nas decisões e defender os interesses dos Jovens. Aí sim devem levatar bem alto as "bandeiras" e fazer todo o barulho.
Cuidem-se..

btw - não é preciso inventar tudo. Podem sempre consultar o Livro Branco para as Políticas de Juventude da União Europeia que "aconselha" sobre as linhas de orientação estratégica na definição destas políticas.

A revolução no decor do lar ;)

Pois é! Depois do IKEA ter chegado ao nosso país (e para além dos preços) ter revolucionado todo o conceito de mobiliário e decoração para o lar, eis que chega até nós aquela ferramenta que tanta falta fazia.

Nas lojas da especialidade é possível experimentar.. quase tudo. É possível contemplar o design, verificar a qualidade dos materiais, as dimensões, experimentar o conforto.. enfim, uma panóplia de experiências a levar a cabo antes da aquisição. Afinal de contas trata-se de peças que farão parte do nosso quotidiano. Peças que nos acolhem quando chegamos a casa. Peças que reflectem o nosso gosto e, de certa forma, a nossa personalidade.

Não obstante, é provável (poderei dizer comum?) chegarmos a casa e verificarmos que afinal aquela peça não é exactamente como tínhamos imaginado e não preenche um (mui) importante requisito.

Para terminar com estes problemas, foi colocada à nossa disposição esta ferramenta que nos torna consumidores mais conscientes, mais esclarecidos. Um must, a ser recomendado em breve pela defesa do consumidor, como imprescindível antes de qualquer aquisição mobilar.

http://www.loveyourmouse.com/awards/cannes/tokstok/portugues/kamasutra.html

..e boas compras ;)

Contra?! CONTRA??

Foi esta a interrogação que durante alguns minutos ficou a martelar no meu pensamento, logo após ter ouvido na rádio que o PSD votou contra o Orçamento de Estado para 2006 (OE2006).

É do conhecimento geral que nestas questões dos votos existem os favoráveis, as abstenções e os contra.. No nosso dia-a-dia, nos círculos democráticos mais mundanos (o condomínio do prédio, a assembleia geral do glorioso SLB, à mesa do jantar - aka conselho familiar, etc) ser a favor ou contra significa isso mesmo e abster-se significa que nem sim nem sopas ou que não se faz puto de ideia sobre o que escolher.

No mundo da política os chamados sentidos de voto podem, para além da leitura mundana, ter implícito o demarcar de uma posição. A este conceito na sua perspectiva mais lata, na língua portuguesa, chama-se política (seria mais acertado chamar-lhe politiquice?). Em inglês é relativamente mais simples:
."policies" - política, diplomacia, sistemas, planos de acção.
."politics" - política, diplomacia, sagacidade, oportunismo.
(in The New Webster Handy College Dictionary)

Imagine-se que podemos discordar em parte de uma determinada medida (policy), mas sabemos que de todas as medidas apresentadas e que reunem condições de passar essa é a melhor (ou a menos má). Tendo em conta que as coisas têm que acontecer e não se pode criar o vazio de não se tomar nenhuma medida, não votamos contra e acabamos por dar o voto de abstenção - neste caso chamado de voto de viabilização.

Quando existe apenas uma única opção, torna-se mais "fácil": vota-se a primeira vez contra e a proposta não passa por reunir mais votos contra que a favor (suponhamos). Como não pode existir o tal vazio de não se tomar uma decisão, procede-se a uma segunda volta onde, nas condições referidas anteriormente, alteramos o sentido de voto para abstenção. Graças às abstenções, os votos favoráveis superam os votos contra e a proposta passa. Assim, quem discordava da proposta mas não era totalmente contra a mesma, consegue mostrar claramente que não concorda com a medida, mas que também não se opõe à operacionalização da mesma (politics.. puro e duro!).

(Como é óbvio, se somos terminantemente contra determinada medida ou se sabemos que ela será indubitavelmente prejudicial, não há voto de viabilização que possa valer).

Sob um ponto de vista mais "puro" podemos entender isto como um fiel exemplo daquilo que não deve ser a política. Pelo outro extremo podemos entender como "protocolos de um jogo" chamado política (ou será politiquice?).

Voltando ao OE2006, e ao voto contra do PSD..

É sabido que o PSD, em tempo de pré-campanha para as legislativas, propôs ao PS um pacto de regime sobre os assuntos mais importantes a nível de estabilidade e crescimento do país. Pacto esse recusado pelo PS..

É sabido que esse pacto seria um passo deveras importante para garantir um crescimento estratégico e sustentado ao longo de vários anos, contrariamente às curvas e contra curvas pseudo-estratégicas "quadrianuais" a cada mudança de governo/partido no poder.

É sabido que uma política favorável ao desenvolvimento do país nos próximos anos teria que passar forçosamente pelo rigor, aperto orçamental e eliminação de alguns direitos adquiridos e excessivos face ao panorama actual (sacro santos e intocáveis direitos divinamente lavrados nessa nossa constituição criada no fervor da revolução e que protege os direitos dos trabalhadores indefesos e coitadinhos face aos mauzões do capital e donos das grandes fortunas..).

Por outro lado sabemos também que o PS (sabendo que iria ganhar mas auspiciando a maioria absoluta) prometeu uma série de medidas que rapidamente mostrou não serem passíveis de serem cumpridas.. pelo menos por quem pretende gerir o país com responsabilidade. Assim veio o aumento de 9 impostos em 9 meses (quando se prometeu não aumentar nenhum), o aumento da idade da reforma, a eliminação dos diversos serviços sociais e centralização na ADSE (em alguns casos aumentando os custos por benificiário como no caso dos Serviços Sociais do Ministério da Justiça) entre outras medidas tão impopulares mas, no meu entender, na sua grande maioria, essenciais para alterar o rumo de naufrágio. A seu tempo virão as portagens nas SCUT's e a alienação do património do estado.. aguardem!

Todas estas medidas são um belo conjunto para alimentar o actual descontentamento social que se vive e que, se me é permitido fazer algum futurismo, se irá agravar em 2006.

Partidos como o PCP, BE e eventualmente o PP, cientes de que jamais poderão constituir governo (com excepção de uma coligação), podem facilmente assumir as vozes do descontentamento, exigir, exigir e ainda exigir, sem que deles se espere algum tipo de responsabilidade no que se exige. Não obstante discordarem em grande parte com as medidas consagradas no OE2006 é inequívoco que (salvo algumas linhas.. de caminhos de ferro tb ;)) temos que caminhar para o sentido estratégico que este plano define. Ainda assim, e pelo exposto, a estes partidos pode caber a (ir)responsabilidade de votar contra o OE2006.

Depois existe o partido que constitui real alternativa (ou de momento talvez não) de governo. E desse partido espera-se uma oposição responsável. Com críticas que vão para além do arremesso político e que se verifiquem como verdadeiras alternativas. No momento em que as linhas gerais do OE2006 são coincidentes com as propostas do PSD em campanha eleitoral, é no mínimo expectável que, não querendo dar "pontos ao inimigo" com o voto favorável, o mesmo seja aprovado pela maioria parlamentar e também viabilizado pela abstenção do PSD.

Pasmem-se.. o voto foi contra! E porquê?! Porque o projecto do TGV é megalómano.. quando reduziu drasticamente o que o governo do PSD inicialmente acordou. Porque são aumentados os impostos aos pensionistas que recebem mais de €530/mês.. quando esta medida apenas pretende aproximar, para os mesmos valores auferidos, os impostos de quem trabalha e de quem recebe pensões (será isto injusto? será isto sequer uma questão?). Porque não se criam descriminações positivas exclusivas dos habitantes das zonas desfavorecidas e consequentemente os custos das SCUT's continuam a ser suportados por todos, mesmo aqueles que não têm o luxo de utilizar um automóvel.. concordo com esta, mas será uma acção tão grave que inviabilize toda a linha?! Não creio.

Não posso deixar de entender este sentido de voto como um mero exercício de combate partidário que suplanta por completo o sentido de estado e os interesses do país. É claramente um tiro no pé que descredibiliza de forma grave o PSD.

«Cidadãos de todas as idades e com ambições de uma vida melhor, procuram governo e oposição credíveis para relação séria e quem sabe talvez mais»

.. ou será só para rir e comer bolachas?!

Última Hora!

(não resiti.. está delicioso :p)

"Mecânicos, bate-chapas, sucateiros e um vogal da junta de Pirescoxe têm andado numa lufa-lufa a substituir calendários de mulheres nuas com seios grandes, pelas declarações de rendimentos dos ministros com grandes dígitos.

O que está a dar são as reformas obscenas que os ministros acumulam com ordenados provocantes.

"- Há três anos que tenho a Carla Matadinho na parede. Agora vou trocá-la pela reforma de Campos e Cunha, que é muito mais indecente", confidenciou um mecânico de olhar lúbrico.

A excitação é tal que alguns ministros têm sido alvo de piropos lançados por homens das obras ao passar debaixo dos andaimes. Das pérolas mais frequentes sublinham-se duas:

"- Contigo, reformava-me todos os dias!!"

"- Comia-te essa pensão toda, ó Dr.!!""



"Ditosa voava solitária na noite de Hamburgo. Afastava-se batendo as asas energicamente até se elevar sobre as gruas do porto, sobre os mastros dos barcos, e depois regressava planando, rodando uma e outra vez em torno do campanário da igreja.

- Estou a voar! Zorbas! Sei voar! - grasnava ela, eufórica, lá da vastidão do céu cinzento.
O humano acariciou o lombo do gato.
- Bem, gato, conseguimos - disse ele suspirando.

- Sim, à beira do vazio compreendeu o mais importante - miou Zorbas.
- Ah, sim? E o que é que ela compreendeu? - perguntou o humano.
- Que só voa quem se atreve a fazê-lo - miou Zorbas.
- Suponho que agora te estorva a minha companhia. Eu espero-te lá em baixo - despediu-se o humano.

Zorbas permaneceu ali a contemplá-la até que não soube se foram as gotas de chuva ou as lágrimas que lhe embaciaram os olhos amarelos de gato grande, preto e gordo, de gato bom, de gato nobre, de gato de porto."

Luis Sepúlveda, in 'História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar'


Por vezes os grandes ensinamentos aparecem em histórias simples. Afinal não serão os grandes ensinamentos.. simples?! Tão simples como nesta história infantil :)

"Um pequeno prazer", verdadeiramente ;)
Recomendo.

Confiança

"A maior parte da nossa confiança nos outros é frequentes vezes constituída de preguiça, egoísmo e vaidade: preguiça quando, para não investigar, vigiar e agir, preferimos confiar em outrém; egoísmo quando a necessidade de falar das nossas coisas nos leva a confidenciar-lhes algo; vaidade quando uma coisa nos torna orgulhosos. No entanto, exigimos que se honre a nossa confiança.

Por outro lado, nunca deveríamos irritar-nos com a desconfiança, pois nela reside um elogio à probidade, ou seja, é a admissão sincera da sua extrema raridade que faz com que entre no rol das coisas de cuja existência duvidamos."

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

Autárquicas 2005

Fiz as pazes com a blogosfera! Após este tempo de ausência do meu blog (as más línguas chamavam-lhe mesmo "o teu post") estou de volta :)

Muito foi falado sobre as autárquicas antes do dia 9; alguma coisa ou pouco se fala depois das mesmas terem acontecido. Talvez o assunto esmoreça pelo sentimento generalizado de frustração, pela sensação de tudo na mesma. Por todas as Fátimas, Isaltinos e Majores que, não obstante serem reconhecidos caciques inveterados, foram re-eleitos.. pelo povo. Por todo o seu mérito, transparência, honestidade e competência, foram re-eleitos..pelo povo. Alguns "premiados" com maiorias absolutas!!.. dadas pelo povo. E este argumento legitima tudo. Legitima nomeadamente aquele sentimento de que os "espertos" se safam sempre. Sentimento esse muito amargo e criticado.. pelo povo!

É politicamente incorrecto criticar o povo, os eleitores. A sua imensa sabedoria, o seu julgar acertado desferido pelo golpe do voto, constitui a mais suprema (qual divina!) justiça sobre os actos praticados pelos nossos políticos. Ou então não..

Analisando os resultados nacionais, verifica-se que a abstenção rondou os 40%. Significa isto que 4 em cada 10 eleitores portugueses "não está nem aí" para os seus autarcas. Para quem numa linha directa os representa, trabalha para eles. Não estamos a falar de eleições para um parlamento europeu que fica para lá do sol posto, de pessoas que não sabemos muito bem quem são, nem ao certo o que fazem. Estamos a falar dos tipos que mandam aparar a relva do nosso jardim, arranjar os passeios, tapar os buracos da estrada, mandam fazer as escolas primárias, constroem parques radicais para os dreads e lares para os velhos.. conhecem (ou deveriam conhecer) e têm o poder para resolver os verdadeiros e mais directos problemas que nos afectam todos os dias. E em relação aos problemas que não são da sua directa responsabilidade, cabe-lhes a tarefa de pressionar e influenciar quem de direito para os resolver.

Existe sem dúvida um déficit de formação democrática e cívica. Faço uma breve análise sobre a minha formação e os sítios por onde passei (passo): a escola, a família, os amigos e a sociedade em geral, os agentes educativos vários. Com raras e muito honrosas excepções (como o Escotismo), recordo-me de muito poucos espaços onde a vivência democrática, mais do que vivida e implementada, foi reflectida, explicada de forma sistémica.. evidenciada como verdadeiro e essencial valor da nossa sociedade! Mais raro ainda foi o reforço da participação democrática como suporte à própria existência da democracia. E isto faz todo o sentido quando analiso atentamente a "qualidade" de alguns autarcas, do seu projecto, da sua abnegação perante o povo que pretendem servir. A falta de participação democrática diminui em larga escala o leque de opções entre pessoas, ideias e projectos. Abre espaço para que alguns dos não bons (medíocres entenda-se) atinjam os lugares de decisão/acção. A mediocridade das suas acções/decisões deveria, num povo participativo e interessado, gerar contestação, alternativa.. mas num povo não participativo gera maior desmotivação, maior afastamento, maior desinteresse. O mérito e a nobreza das funções de governo declinam e afastam aqueles que não querem ser associados a algo tão desprestigiante como a política.

Mas a quem preocupa esta abstenção (a todos os níveis de participação)? Como se quebra este ciclo perigosamente solidificado?

No seu discurso final das autárquicas, Marques Mendes do PSD, a firmou estar "muito satisfeito com o nível de participação nestas eleições". E eu pergunto: ouve lá oh Marques.. passaste-te, não!? 40% dos portugueses ficou a partir cascalho de manhã e a bezerrar no sofá à tarde, incapaz de perder 20 minutos para expressar a sua vontade mediante o que é melhor para si nos próximos 4 anos, e há políticos "muito satisfeitos" com isso!? (/me dá uma grande caldo na testa do MM).

Será que se o número de lugares ocupados nos cargos políticos fosse directamente proporcional ao número de votos expressos.. Será que se 40% dos lugares da assembleia municipal, do executivo camarário e da ssembleia de freguesia ficassem vazios no próximo mandato porque 40% dos eleitores não sairam de casa, este seria um assunto preocupante para os partidos? Será que se assim fosse, não seríamos muito mais forma(ta)dos nas escolas, famílias, agentes educativos, para realmente sermos construtores pró-activos da nossa sociedade, do nosso meio? Será que não atenuaríamos a sensação recorrente de vivermos em espaços / com acções nos(as) quais não nos revemos?

Gostava que este fosse um daqueles casos em que é só rir e comer bolachas, mas não é. As consequências são vastas e profundas demais para sorrirmos sobre o assunto.

Pois bem.. diz que aqui estou eu a iniciar um blog!

Não um blog qualquer. Não mais um dos milhares que proliferam como cogumelos pela net. Não um daqueles sentimentalóides que parecem transformar cada banalidade do nosso dia a dia num poema de sentimentos extremos e intensos. Não um daqueles que fazem copy > paste de letras de músicas, frases feitas, ou lindas palavras que alguém por nós escreveu.. alguém por nós sentiu.

Só rir e comer bolachas.. será isso mesmo: rasgos de palhaçada e sátira sobre a comédia que é esta vida, este país e este mundo.

Mas ironia das ironias, será mesmo um post sentimentalóide que vai inaugurar o blog! Será raro.. tão raro como os momentos desta noite :)

Sei que os ditos não perecerão na memória, no sorriso ou na vontade de os reviver de quem os partilhou. Mas pareceram-me dignos de registo na evidência das palavas. Tão evidentes quanto o fluir das conversas, da partilha, das novidades, dos sonhos, da gozação, da palhaçada.. do incrível passe de magia que foi a comparência geral e sem excepção ao chamamento.
E estávamos lá! E estamos lá! E estamos cá! Sim, estamos.. estaremos. À bela moda dos tempos idos. À moda dos tempos vindouros. Porque estar longe não é esquecer. Não é não querer.

Só me ocorrem as palavras feitas de alguém que por assim se declarar mereceu a nossa sátira. Palavras que de tão verdadeiras, não obstante a "leviandade" da sua proclamação, ficaram até hoje a ecoar no meu pensamento.

"As amizades não se agradecem, vivem-se!"

pois então.. VIVAM-SE!!

Bem hajam.


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