Autárquicas 2005

Fiz as pazes com a blogosfera! Após este tempo de ausência do meu blog (as más línguas chamavam-lhe mesmo "o teu post") estou de volta :)

Muito foi falado sobre as autárquicas antes do dia 9; alguma coisa ou pouco se fala depois das mesmas terem acontecido. Talvez o assunto esmoreça pelo sentimento generalizado de frustração, pela sensação de tudo na mesma. Por todas as Fátimas, Isaltinos e Majores que, não obstante serem reconhecidos caciques inveterados, foram re-eleitos.. pelo povo. Por todo o seu mérito, transparência, honestidade e competência, foram re-eleitos..pelo povo. Alguns "premiados" com maiorias absolutas!!.. dadas pelo povo. E este argumento legitima tudo. Legitima nomeadamente aquele sentimento de que os "espertos" se safam sempre. Sentimento esse muito amargo e criticado.. pelo povo!

É politicamente incorrecto criticar o povo, os eleitores. A sua imensa sabedoria, o seu julgar acertado desferido pelo golpe do voto, constitui a mais suprema (qual divina!) justiça sobre os actos praticados pelos nossos políticos. Ou então não..

Analisando os resultados nacionais, verifica-se que a abstenção rondou os 40%. Significa isto que 4 em cada 10 eleitores portugueses "não está nem aí" para os seus autarcas. Para quem numa linha directa os representa, trabalha para eles. Não estamos a falar de eleições para um parlamento europeu que fica para lá do sol posto, de pessoas que não sabemos muito bem quem são, nem ao certo o que fazem. Estamos a falar dos tipos que mandam aparar a relva do nosso jardim, arranjar os passeios, tapar os buracos da estrada, mandam fazer as escolas primárias, constroem parques radicais para os dreads e lares para os velhos.. conhecem (ou deveriam conhecer) e têm o poder para resolver os verdadeiros e mais directos problemas que nos afectam todos os dias. E em relação aos problemas que não são da sua directa responsabilidade, cabe-lhes a tarefa de pressionar e influenciar quem de direito para os resolver.

Existe sem dúvida um déficit de formação democrática e cívica. Faço uma breve análise sobre a minha formação e os sítios por onde passei (passo): a escola, a família, os amigos e a sociedade em geral, os agentes educativos vários. Com raras e muito honrosas excepções (como o Escotismo), recordo-me de muito poucos espaços onde a vivência democrática, mais do que vivida e implementada, foi reflectida, explicada de forma sistémica.. evidenciada como verdadeiro e essencial valor da nossa sociedade! Mais raro ainda foi o reforço da participação democrática como suporte à própria existência da democracia. E isto faz todo o sentido quando analiso atentamente a "qualidade" de alguns autarcas, do seu projecto, da sua abnegação perante o povo que pretendem servir. A falta de participação democrática diminui em larga escala o leque de opções entre pessoas, ideias e projectos. Abre espaço para que alguns dos não bons (medíocres entenda-se) atinjam os lugares de decisão/acção. A mediocridade das suas acções/decisões deveria, num povo participativo e interessado, gerar contestação, alternativa.. mas num povo não participativo gera maior desmotivação, maior afastamento, maior desinteresse. O mérito e a nobreza das funções de governo declinam e afastam aqueles que não querem ser associados a algo tão desprestigiante como a política.

Mas a quem preocupa esta abstenção (a todos os níveis de participação)? Como se quebra este ciclo perigosamente solidificado?

No seu discurso final das autárquicas, Marques Mendes do PSD, a firmou estar "muito satisfeito com o nível de participação nestas eleições". E eu pergunto: ouve lá oh Marques.. passaste-te, não!? 40% dos portugueses ficou a partir cascalho de manhã e a bezerrar no sofá à tarde, incapaz de perder 20 minutos para expressar a sua vontade mediante o que é melhor para si nos próximos 4 anos, e há políticos "muito satisfeitos" com isso!? (/me dá uma grande caldo na testa do MM).

Será que se o número de lugares ocupados nos cargos políticos fosse directamente proporcional ao número de votos expressos.. Será que se 40% dos lugares da assembleia municipal, do executivo camarário e da ssembleia de freguesia ficassem vazios no próximo mandato porque 40% dos eleitores não sairam de casa, este seria um assunto preocupante para os partidos? Será que se assim fosse, não seríamos muito mais forma(ta)dos nas escolas, famílias, agentes educativos, para realmente sermos construtores pró-activos da nossa sociedade, do nosso meio? Será que não atenuaríamos a sensação recorrente de vivermos em espaços / com acções nos(as) quais não nos revemos?

Gostava que este fosse um daqueles casos em que é só rir e comer bolachas, mas não é. As consequências são vastas e profundas demais para sorrirmos sobre o assunto.

4 comentários:

APaula 11/10/05, 10:29  

Ena!..Inspirado ;)

}Merlin{ 12/10/05, 16:43  

Folgo em ver que o meu velho amigo também aderiu à blogomania, que permite partilhar com os outros os seus intensos momentos de inspiração.

Sobre o assunto em questão apraz-me dizer que é sem grande espanto que vemos os Isaltinos, Fátimas e Majores serem eleitos, com votações esmagadores, pelo povo que tão bem os conhece.

Não penso que o povo esteja enganado quando legitimamente fazem uso desse Direito (...não será antes DEVER?) pelo qual tão boa gente combateu arduamente para conseguir, a que se chama Voto ... Democracia ... Liberdade...

Não deverão esses ilustres e muy merecidamente denominados autarcas (os resultados não enganam) ser encarados como ilustres referências da nossa sociedade?

Será que as pessoas que conscientemente votarem neles, nãos os vêem como referências?

Afinal, eles levam uma vida de sucesso, ganham umas boas massas sem terem que se esforçar muito, fazem e desfazem o que querem e que lhes apetece sem terem de se preocupar com as suas consequências, parecem imunes à (In)Justiça do país em que vivemos.

Quanta gente não anseia o mesmo para as suas vidas?

Então porque não elevarem bem alto aqueles que são os seus Heróis?

João Leandro

}Merlin{ 12/10/05, 17:06  

Abstenção ...

Na verdade, globalmente falando,
temos o país que merecemos,os políticos que merecemos, e a vida que merecemos.

Não serão os políticos do nosso país apenas um reflexo das pessoas que temos?

Povo de Portugal ... parem uns segundos, e pensem por momentos ...
Quantos de vocês estão mais preocupados com o vosso umbigo, com aqueles que vos são mais próximos, com o que é que vos irá acontecer amanhã, com os problemas que os vossos filhos terão em arranjar emprego, com a forma como vão conseguir viver da reforma, and so on... and so on ...

Afinal os políticos do nosso país, limitam-se a fazer o mesmo. Com a diferença que eles o fazem a um nível em que conseguem resolver os seus problemas e preocupações ...

Quantos não dizem ... se eu estivesse lá, não seria como eles ... e quantos desses chegaram lá e cumpriram a sua "promessa" ?

40% de abstenção ... Boa marca ... denota o interesse, a confiança que os portugueses têm na política e nos políticos...

A política é uma coisa, como me disse o ilustre autor deste blog (LOL), pois é verdade, e eu concordo ... mas tem um pequenino problema... Depende das pessoas, e o ser humano tem o dom de fazer merd@ em tudo o que faz ... e a política não foge à regra ...

Eu cá, não acredito na política nem nos políticos, ainda assim continuo religiosamente a exercer o meu direito de voto. Eleição após eleição lá estou eu a colocar o boletim na urna ... sentido a cada eleição que passa, que é para a urna que eu hei-de caminhar ... sem algum ver os problemas da nossa sociedade em que vivemos, resolvidos.

Cada vez mais a política é menos uma questão de ideias, projectos, acções, e mais uma questão de pessoas. Não importa o que pensam, o que fazem e os projectos que têm ... aliás ... isso na maior parte das vezes nem é discutido nas Campanhas ...

Parece-me que cada vez mais temos uma DEMO cracia, que nos parece levar para o Inferno.

Alguém disse um dia que "A Democracia é o menos mal dos Sistemas".

Mudam as pessoas, mas a merd@ é a mesma.

Ainda assim, e sem acreditar nos políricos, não falho uma ... Mas como eu, outros deixaram de acreditar, e se calhar esqueceram rapidamente aqueles que lutaram para que hoje possamos exercer esse Direito.

Na verdade ... quem não exerce o seu Direito ... não tem depois legitimidade para contestar o que é feito.

40% é muita gente a não acreditar ... Esses 40% dariam para ganhar as eleições ...

Não admira que haja quem diga que esteja satisfeito com a participação dos portugueses.

Tenho uma proposta ...

Nas próximas eleições deveria no boletim de voto um espaço para pôr a cruz a dizer "Nenhum dos anteriores".

Caso esta lista ganhasse as eleições, seria feito um sorteio, estilo euromilhões (que agora está na moda), em que se sorteava de entre todos os portugueses maiores de 18 anos (e com mais de 1,50.. se quiseremos deixar de fora o Marques Mendes LOL),quais seriam os eleitos para os cargos em causa ...

Seria muito mais justo ... e assim, todos nós teriamos muito mais condições de um dia podermos vir a resolver os nossos problemas ...

João Leandro

}Merlin{ 17/10/05, 11:32  

Aqui vai mais uma coisa que eu apanhei por aí na net, e que demonstra o meu sentimento em relação à política:

O antes e o depois das eleições:


ANTES DA POSSE

Nosso Partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade é fundamental
para alcançar nossos ideais
Mostraremos que é grande estupidez crer que
as máfias continuam no governo. cm sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo de nossa acção.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar c nódoas da velha política.
Quando assumirmos o poder,faremos tudo p q
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
as nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos nossos propósitos mesmo que
os recuros económicos do país se esgotem
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política."

APÓS A POSSE:

(Ler de baixo para cima)

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