Da vida

A cada encontro que temos com a morte de alguém, seja a de pessoas próximas ou espelhada no sofrimento que ela provoca a quem nos é querido, sinto que é mais um encontro que temos com o nosso próprio dia final.

É um processo individual e único em cada pessoa e nesse momento um turbilhão de questões atravessa-nos o espírito. Quando será? Terei feito tudo quanto queria? Terei feito tudo quanto podia? Como vivi? Que marca deixei no mundo? Quem fui eu para as pessoas cujas vidas toquei e sobretudo para aqueles que me marcaram? Fui feliz? Fiz alguém feliz? Valeu a pena..!?

A morte é possivelmente o evento mais democrático do mundo. Todos teremos direito a ela. Implacável pela sua imprevisibilidade faz-nos (ou deveria fazer!) viver num constante sobressalto. Não pela ansiedade ou receio desse dia, mas pela sua certeza imprevisível que nos deveria fazer agarrá-la por inteiro a cada instante. É neste oxímoro aparentemente cruel que se encontra a oportunidade perante a vida.

Com sabor de epifania percebi. A morte faz-nos ganhar vida. Faz questionar os sentidos da nossa existência. Faz-nos ambicionar. Oferece uma clarividência crua e avassaladora sobre os valores que conduzem a nossa vida. Desperta. Lembra-nos que do primeiro ao último dia não sabemos a distância. Lembra-nos que entre o primeiro e o último dia fica apenas o caminho que desenhamos e percorremos. Lembra-nos a urgência de fazer esse percurso. Sem adiamentos. Com paixão. Olhando para trás tão somente para encontrar a referência necessária para traçar o azimute para o próximo destino.

Lembra-nos que cada dia é uma oportunidade de fazer diferente. De experimentar, de crescer, de voltar a errar e aprender. De recomeçar. De nos superarmos! De fazer valer mesmo a pena.

De que estamos à espera?

De que estamos à espera!?


1 comentários:

AF 24/11/10, 20:22  

MUITO BOM!

obrigada pela partilha :)

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